Que suplementos, caso haja, pode valer a pena o seu dinheiro

Dificilmente se passa um dia sem que as pessoas não me falem que um ou mais suplementos dietéticos tem curado ou impedido doenças delas, ou sugerem que eu tente suplemento para tratar um problema qualquer. E não sou imune a ideia de pensar que uma sobredose de vitamina, mineral ou erva possa ajudar a manter-me saudável ou aliviar algum sofrimento, sem ter que consultar um médico.

Eu sucumbi a várias sugestões populares, incluindo melatonina e magnésio para melhorar o meu sono, glucosamina-condroitina para combater a dor artrítica e óleo de peixe para proteger o meu cérebro e coração. Eu os tomei  mesmo sabendo da falta de evidência irrefutável e cientificamente estabelecida para tais benefícios, e que poderia estar pagando possivelmente por um efeito do placebo.

Mas como jornalista cientificamente treinado, sinto-me obrigado a ajudar os outros a tomar decisões racionais sobre quais, se houver, suplementos dietéticos que valham seus dólares suado. Vou começar com a linha de fundo sobre o mais popular destes, a combinação multivitamínica/mineral diária: Se você é um adulto saudável, sem deficiências nutricionais conhecidas, poupe seu dinheiro.

Um painel independente convocado pelo National Institutes of Health concluiu que está faltando evidências a favor ou contra a capacidade de multivitamínico em prevenir doença crônica. A Sociedade Americana do Câncer, a American Heart Association e a United States Preventive Services Task Force, entre outros, não encontraram nenhuma função na prevenção do câncer ou doenças cardíacas pelos suplementos. Ao invés disto, elas recomendam uma dieta equilibrada contendo vários alimentos por ser mais efetiva do que qualquer cápsula.

Isso não significa que as pessoas deficientes de um ou outro nutriente devam abster-se de tomar suplemento recomendado pelo médico. Por exemplo, atualmente os médicos rotineiramente testam níveis de vitamina D, especialmente em adultos mais velhos, quase todos que eu conheço, eu incluído, estão tomando 1.000 unidades internacionais ou mais deste nutriente todos os dias, principalmente para fortalecer a saúde óssea. Havendo deficiência de vitamina D, o corpo não absorve suficiente cálcio e fósforo da dieta para manter os ossos fortes. No entanto, ainda não foi provado que suplementos de vitamina D previnem fraturas.

Os níveis de cálcio das pessoas também tem sido problemático após declínio significativo no consumo de leite pelos americanos nas últimas décadas, embora fontes de cálcio como iogurte, queijo e sorvete continuam populares. Ao consumir quantidades adequadas de alimentos ricos em cálcio, incluindo leite desnatado (sem lactose) e vegetais de folhas verde escuro, eu pude ignorar  suplemento de cálcio, que pode ser constipante ou pior.

Uma análise de 15 estudos em 2010 sugeriu que os suplementos de cálcio aumentaram o risco de ataque cardíaco em cerca de 30 por cento, embora a última diretriz, baseada em estudos observacionais, sugira nenhum excesso de risco cardiovascular com a ingestão combinada de cálcio de 2.500 miligramas de alimentos e suplementos. Cálcio tomado como suplemento também pode resultar em cálculos renais e problemas gastrointestinais, e correr tais riscos, segundo conclusão de alguns pesquisadores, não se justifica por sua limitada capacidade de prevenir fraturas.

Embora os resultados tenham sido comprovados e argumentados por pesquisa subsequente, muitos especialistas enfatizam que a dieta é a fonte preferida de cálcio, reservando suplementos para pessoas que já tenham osteoporose, ossos quebrados ou enfrentam risco significativo de fratura.

Para os adultos com mais de 50 anos, os níveis sanguíneos de vitamina B12 podem se tornar baixos o suficiente para comprometer o funcionamento saudável do cérebro e dos músculos. Os alimentos de proteína animal são a fonte dietética primária deste nutriente, mas se os níveis ácidos do estômago forem baixos, ela não pode se separar de sua proteína carreadora e assim não é bem absorvida. A deficiência de B12 pode ser detectada com exame de sangue e, se confirmada, repor com suplemento diário entre 500 ou 1.000 microgramas.

Há o óleo de peixe, geralmente tomado na esperança de prevenir doenças cardíacas e declínio cognitivo. Os suplementos contêm dois fatores de ácidos graxos ômega-3, que são importantes para a função cerebral e para prevenir inflamação, fator significativo na doença cardíaca. Eu comecei a tomar suplementos de óleo de peixe há muitos anos na esperança de combater os efeitos de nível crescente de colesterol.

No entanto, um estudo de 2013 de mais de 12.000 pacientes com alto risco de ataque cardíaco não demonstrou proteção pelos suplementos de óleo de peixe. E outro estudo importante naquele ano associou suplementos de óleo de peixe a risco elevado de câncer de próstata, especialmente uma forma agressiva da doença, sugerindo que para os homens podem ser melhor obter esses ácidos graxos com uma porção ou duas por semanas de óleo de peixe.

O magnésio, um mineral importante para a função muscular, é outro suplemento crescente em popularidade. Pessoas que rotineiramente se medicam com supressores de ácido, e aqueles com doença renal ou doença de Crohn, podem desenvolver deficiência de magnésio, detectável com exame de sangue. As melhores fontes deste mineral permanecem nos alimentos tais como espinafre, nozes, legumes e cereais integrais.

No entanto, estudos não têm corroborado com alegações de que os suplementos de magnésio podem prevenir cãibras musculares e especialmente cãibras nas pernas à noite, embora eles pareçam ter me ajudado, e a um amigo meu. Eu também os achei úteis no combate a um problema crônico de constipação.

Mas para algumas pessoas, os suplementos de magnésio não são isentos de riscos. Em doses acima de cerca de 250 miligramas podem causar diarréia e interferir com certos medicamentos, incluindo antibióticos e diuréticos. Pessoas com doença crônica são aconselhados a consultar os seus médicos antes de ingerir suplemento de magnésio.

Outro badalado suplemento é o açafrão, um tempero popular da cozinha indiana e agente utilizado em medicina tradicional chinesa e ayurvédica. Um amigo acredita que uma dose diária de açafrão ajudou a aliviar a fasceiite plantar persistente, permitindo-lhe novamente correr e jogar tênis. Estudos em animais sugerem que ele tem propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e anticancerígenas, embora o Centro Nacional de Saúde Complementar e Integrativa diz que muito poucos estudos em seres humanos foram feitos para confirmar ou refutar quaisquer supostos benefícios médicos.

O mesmo pensamento ocorre com glucosamina/condroitina. Apesar dos consideráveis testemunhos a favor da capacidade destes suplementos em aliviar a dor artrítica, um ensaio clínico controlado não encontrou nenhum benefício além de efeito placebo.

A despeito de aconselhamentos de amigos, ou de descobertas de alguns estudos, a história mostra que os benefícios e riscos com uso dos suplementos merece cuidado.

Com efeito, baseado em consideráveis evidências sugestivas, um grande estudo patrocinado pelo governo testou a capacidade do selênio e vitamina E em diminuir o risco de câncer de próstata. Lamentavelmente, os homens que tomaram vitamina E desenvolveram significativamente mais cânceres do que aqueles com  placebo, e aqueles que tomaram selênio foram mais propensos a desenvolver diabetes.

Traduzido do site: http://www.nytimes.com/2016/11/21/well/live/which-supplements-if-any-may-be-worth-your-money.html

By JANE E. BRODY

Dr. Lourenilson Souza

Dr. Lourenilson Souza

Formado em Medicina pela Universidade Federal de Alagoas;
Especialista em Cirurgia Geral e do Aparelho Digestivo com Área de Atuação em Cirurgia Bariátrica;
Mestre e Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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